T R A N S P A R Ê N C I A S



quarta-feira, 14 de maio de 2008

Hélio Cunha

(artista plástico)

Para criar uma obra dominando simultaneamente a composição e a transparência, num meio em que a cor branca é dada pelo próprio papel, é necessário algum virtuosismo e, principalmente, é essencial saber quando se deve dar a pintura por terminada. Este preceito tão decisivo em qualquer género de arte é fundamental, pois neste tipo de pintura nada se pode emendar ou refazer. São estes os motivos pelos quais o meio invariavelmente escolhido na arte monástica oriental, de tradição Zen, é por excelência a aguarela.

Na Europa, desde os artistas que iluminaram manuscritos medievais até Paul Klee, muitos pintores produziram grande parte ou a totalidade do seu trabalho utilizando também este método.

Para além da sensibilidade que demonstra, Antonieta Castro, parece dominar as técnicas e as intuições que tem desenvolvido ao longo dos anos e lhe permitem alcançar graus de segurança e espontaneidade que lhe dão ao seu trabalho uma credibilidade exemplar.

As transparências, o traço e a gradação tonal não se entrechocam ou antagonizam, antes se equilibram numa relação estética de discreta eficácia de modo a propiciar o equilíbrio da forma com o vazio.

É evidente que nestes quadros existem sempre figuras, embora diluídas num certo grau de abstracção. No entanto é preferível não pensar nas histórias que essas figuras possam querer eventualmente contar. Elas não são a exumação de momentos passados, nem contêm o subjectivismo sentimentalista das recordações que, tal como dizia René Chateaubriand, não passam de ruínas nocturnas examinadas à luz deformante de um archote. Estas figuras representam, não a recordação dos momentos, mas sim a intuição do que neles há de fugaz e verdadeiro.

Assim, a pintura de Antonieta Castro deverá ser entendida como um conjunto de equilíbrios formais, diluídos numa espécie de mistério primordial, de onde se destacam e cintilam, harmoniosos e mágicos esses instantes.

In order to create a masterpiece simultaneously dominated by a composition and a transparency, in a setting in which the white colour is given by the paper itself some virtuosity is elementary and it is essential knowing when the painting is given as finished. This principle, in any type of art, is fundamentally decisive, this kind of painting can not be rectified or remade. These are the reasons which the ambiency chosen by the oriental monacal art, the Zen tradition, is by excellence the watercolours.

Through out Europe, since the time artists illuminates the medieval manuscripts till Paul Klee, many artists produced a great deal or all of their wirk using this method.

Beyond the sensibility that is demonstrated, Antonieta Castro seems to dominate the techniques and intuitions which have developed during the years and have permitted to achieve a certain degree of security and spontaneity that gives her work an example credibility. The transparencies, the traces and the tonal gradation don’t clash or conflict, instead they balance in an efficient discrete esthetic relationship in order to propiciate the balance of the form with the abstract.

It is evident that in these paintings there are always figures, though diluted in a certain degree of abstraction. Although it is preferable no to think about the stories which these figures may eventually want to tell. They are not exhamation of past moments nor do they contain the subjective sentimentalist memories, which as René Chateaubriand used to say, are nothing but nocturnal ruines examinated by the distorted light of a toch. These figures represent not memories of moments, but it’s fugacious and true intuition.

Thus, Antonieta Castro’s painting should be seen a whole of formal balances, diluted in a kind of primitive mystery, from where those harmonious and magical instant stand out and scintillate.

By: HÉLIO CUNHA – (painter) – 1996

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